OS DEFICIENTES E SEUS PAIS – Um Desafio ao Aconselhamento Léo Buscaglia
“Quase todos os médicos que me viram e me examinaram rotularam-me como um caso interessante mas sem esperanças. Muitos disseram á minha mãe, com delicadeza, que eu era deficiente mental e que seria sempre assim. Foi um grande choque para uma jovem mãe que já tivera cinco crianças saudáveis. Os médicos estavam tão certos do que diziam que a fé de minha mãe em mim parecia quase uma impertinência. Asseguraram-lhe que nada poderia ser feito por mim.
Ela recusou-se a aceitar a verdade inevitável – como então parecia – de que eu não tinha esperanças. Ela não podia e não acreditaria que eu era um imbecil, como os médicos afirmavam. Não havia nada nesse mundo em que pudesse se basear, nem uma mínima evidência para apoiar a sua convicção de que, embora meu corpo fosse aleijado, minha mente não era. Apesar de tudo que os médicos lhe disseram, ela não podia concordar. Não creio que soubesse por quê – apenas sabia, sem que a menor sombra de dúvida lhe passasse pela mente.”CHRISTY BROWN
My Left Foot
A citação acima do livro ” Os Deficientes e seus Pais – Um Desafio ao Aconselhamento” do autor Léo Buscaglia, foi o que escutei na maioria das vezes, dos pais com filhos deficientes que convivi ao longo dos meus 40 anos de atendimentos a essas famílias. Essa realidade não é regra, mas infelizmente ainda acontece nos dias de hoje. Independente do nome dado referente a deficiência diagnosticada, todas as famílias relataram e infelizmente ainda “relatam” se sentirem órfãos nessa hora, sendo obrigadas a compreenderem sentimentos e atitudes ocasionados por uma nova situação para a qual há poucas orientações ou definições.
Meu sentimento e atitude perante essas famílias, sempre foi o de enxergar além do que meus olhos retratavam, um olhar diferente e único para cada família era extremamente necessário, mesmo que o diagnóstico fosse igual para muito de seus filhos, cada uma tinha um processo, uma luta, uma condição financeira, uma história e várias, várias perguntas…
- Porque isso aconteceu comigo?
- Poderei ser um bom pai ou uma boa mãe para meu filho deficiente?
- Serei capaz de atender as necessidades do meu filho?
- Conseguirei lidar com o preconceito social?
- Será que vou dar conta das despesas financeiras?
Perguntas essas que me conduziam a estar junto com essas famílias e apoiá-las da melhor maneira possível a cada fio que elas cortassem, sim cada fio, eu explico:
Sempre tive a sensação, e depois de muitos atendimentos, a comprovação, de que esses pais tinham que cortar um fio todos os dias, pois quando receberam a notícia sobre a deficiência do seu filho, foi como se colocassem uma bomba literalmente no colo deles, sem informação nenhuma e principalmente sem esperança. A pergunta constante no pensamento deles era: como iriam conduzir essa situação, e manter a esperança de que cada fio cortado seria minuciosamente estudado para nunca explodir; não era uma bomba, era seu filho, seu maior amor! Comemoravam cada etapa desse processo, em um misto de dor e alegria nas conquistas alcançadas. Conquistas essas que muitas e muitas vezes fiz parte, assumindo a responsabilidade da escolha do fio a ser cortado, e nesta hora era um alívio no coração desses pais, pois tinham alguém para dividir essa dura tarefa.
Os filhos deficientes são pedras que precisam ser polidas, como os filhos sem deficiência, mas o polimento dos deficientes tem que ser preciso, pois todos os filhos, deficientes ou não, serão sempre diamantes para o resto da vida desses pais.
É urgente que profissionais de todas as áreas entendem que: “Os pais são pessoas antes de tudo”, que se não tiverem informação ou conhecimento profundo a respeito, procurem ajudá-los a obter essa informação com profissionais competentes, sem “achologias” ou promessas inviáveis.
É urgente que as Universidades que são formadoras de futuros profissionais, informem o tema “deficiência” de forma correta, humanizada e motivada, para que os alunos se sintam fomentados a procurar e aprimorar os seus conhecimentos.
Na palestra “Sem NÓS, não existe EU”, essas histórias são relatadas por mim de forma motivacional, histórias reais e inspiradoras, foi quando ministrei uma palestra para futuros profissionais no Centro Universitário da Estácio De Sá em Barreiros – SC, e na mesma semana no próprio centro universitário, encontrei com um estudante que havia assistido à palestra, e escutei:
-Olá professora estava na sua palestra, adorei!!!!…Sou da Educação Física, quando cheguei em casa fui pesquisar sobre o assunto ” Autismo”, quero saber mais.
Pensei…Perfeito! Fiz um golaço! Eu não era a maravilhosa, mas o resultado que eu queria sim…a Pessoa com Deficiência TEA, era protagonista e a inclusão verdadeira tinha sido fomentada para futuros profissionais!